Sou o fantasma de um rei Que sem cessar percorre As salas de um palácio abandonado... Minha história não sei... Longe em mim, fumo de eu pensá-la, morre A ideia de que tive algum passado... Eu não sei o que sou. Não sei se sou o sonho Que alguém do outro mundo esteja tendo... Creio talvez que estou Sendo um perfil casual de rei tristonho Numa história que um deus está relendo... Fernando Pessoa
25 de dezembro de 2011
Mágoa
Nas grandes horas em que a insónia avulta Como um novo universo doloroso, E a mente é clara com um ser que insulta O uso confuso com que o dia é ocioso, Cismo, embebido em sombras de repouso Onde habitam fantasmas e a alma é oculta, Em quanto errei e quanto ou dor ou gozo Me farão nada, como frase estulta. Cismo, cheio de nada, e a noite é tudo. Meu coração, que fala estando mudo, Repete seu monótono torpor Na sombra, no delírio da clareza, E não há Deus, nem ser, nem Natureza E a própria mágoa melhor fora dor. Fernando Pessoa
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