6 de maio de 2009

Passei toda a noite...




Passei toda a noite, sem dormir, vendo, sem espaço, a figura dela,
E vendo-a sempre de maneiras diferentes do que a encontro a ela.
Faço pensamentos com a recordação do que ela é quando me fala,
E em cada pensamento ela varia de acordo com a sua semelhança.
Amar é pensar.
E eu quase que me esqueço de sentir só de pensar nela.
Não sei bem o que quero, mesmo dela, e eu não penso senão nela.
Tenho uma grande distracção animada.
Quando desejo encontrá-la,
Quase que prefiro não a encontrar,
Para não ter que a deixar depois.
Não sei bem o que quero, nem quero saber o que quero.
Quero só pensar nela.
Não peço nada a ninguém, nem a ela, senão pensar.


Alberto Caeiro

2 comentários:

Pedro Mota disse...

bem...primeiro que tudo escolheste um daqueles poemas que tocam na ferida e metem a pessoa a pensar como tem andado a vida ultimamente...acho que esta ela já é mais a minha vida que outra coisa...e o que eu estou a precisar é mesmo de ter alguma coisa para amar verdadeiramente e pensar nela o dia todo...

Também é um poema que me aumenta a curiosidade em relação a ti porque tem uma relação com tudo o que postaste mas uma força e uma maneira diferente...e parece um resurgir de ideias depois do último....

Não paro de me surpreender com caeiro...mas depois da t-shirt que me dera percebo o que ele é...
nela só diz...
"dá-me uma mão a mim e outra a tudo o que existe..."

Beijinhos e até um dia destes...quando matar a curiosidade de ver os teus olhos =)

pelosmeusolhos disse...

"Nem sempre sou igual no que digo e escrevo.
Mudo, mas não mudo muito.
A cor das flores não é a mesma ao sol
De que quando uma nuvem passa
Ou quando entra a noite
E as flores são cor da sombra.

Mas quem olha bem vê que são as mesmas flores.
Por isso quando pareço não concordar comigo,
Reparem bem para mim:
Se estava virado para a direita,
Voltei-me agora para a esquerda,
Mas sou sempre eu, assente sobre os mesmos pés –
O mesmo sempre, graças ao céu e à terra
E aos meus olhos e ouvidos atentos
E à minha clara simplicidade de alma..."

A.C.

mas já os consegues ver Pedro...